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O quê é Moral?

O quê é Moral?

A resposta mais frequente é que moral representa o estabelecimento da distinção entre o certo e o errado. Mas esta resposta é insatisfatória, pois certo e errado são conceitos que necessitam, para suas delimitações, contextos específicos e o estabelecimento de uma clara escala de valores, de modo que julgamentos se tornem explicitos e aceitos por outras pessoas. Necessário salientar, ainda, que o certo em uma cultura pode ser errado em outra.

Existe uma incessante produção de métodos para geração de repostas moralmente adequadas sem que consigamos estabelecer com exatidão um conceito universalmente aceito de moral. No mundo inteiro, escolas fortemente baseadas na moralidade, como os cursos jurídicos, treinam técnicos para combater crimes, violências e injustiças, fenômenos considerados moralmente negativos. Além disso, praticamente todo processo educacional inclui em seus currículos disciplinas de filosofia moral no intuito de educar para o respeito à diversidade e aos direitos alheios, disciplinas julgadas capazes de moldar relacionamentos apoiados em concepções moralmente válidas, abrangentes e adequadas ao nosso estágio de desenvolvimento humano.

A Moral como habilidade nata

Uma abordagem interessante sobre a moral, elaborada por Marc D Hauser, a concebe como instinto nato na espécie humana e que forma um conhecimento inconsciente.

Por sse instinto, de modo automático e inconsciente, isto é, sem que necessitemos raciocinar sobre suas regras e princípios, geramos julgamentos do certo e errado culturalmente adaptados (justo ou injusto, permitido ou proibido, incentivado ou punido). Tal instinto atribui significados às nossas percepções, às nossas escolhas e reforça o sentimento de individualidade, pois os fundamentos que o guiam não são objetivamente manipuláveis por uma escala de valores já que se encontram incrustados e inacessíveis no que se poderia denominar alma humana.

Para Hauser a moral, como instinto universal, possui uma espécie de gramática que permite a inserção de regras de comportamentos adquiridas do ambiente cultural em que vivemos. Pelo fato da gramática ser universal, a formação dos princípios morais segue o mesmo padrão em todas as culturas; apenas os conteúdos se diferenciam em função de diferentes crenças, valores e costumes.

Uma analogia dá-se com a linguagem: o ato da fala é inato nos seres humanos e todas as linguagens possuem regras e princípios que as norteiam. Palavras e respectivos significados e sons se unem em obediência à gramática para permitir a comunicação. Quando falamos, não raciocinamos sobre o emprego das palavras, mas, de modo automático e inconsciente, expressamos nossos pensamentos pela fala. A moral segue os mesmos princípios: de modo automática e inconsciente julgamos e avaliamos consequências de nossos atos.

Definir a moral versus compreender a moral

A concepção de pessoas como seres morais natos é extremamente rica em significados. Assim como ainda não conseguimos compreender de modo científico e completo o funcionamento do corpo e da mente humana, o estudo e apreensão minucioso do que seja a moral é complexa. Hauser propõe, então, que adotemos o mesmo princípio empregado no estudo de outros ramos do conhecimento: em lugar de procurar entender o fenômeno em sua totalidade, escolhamos algum de seus componentes, o simplifiquemos e o estudemos em profundidade para melhor compreendê-lo.

Sentido da moral ...

Deslocada do enfoque da pura racionalidade lógica para o enfoque dos sentimentos (“sentimentos morais”) e conceituada como habilidade nata, a moral desempenha importante papel: possibilitar a vida social em harmonia e com abordagens adequadas dos conflitos. Em termos mundanos, a escolha consciente de determinado princípio moral como guia prático, seja a justiça, a fraternidade, a igualdade ou qualquer outro socialmente adequado, origina as condições que permitem a construção e condução da existência de modo articulado, coeso e com autonomia de vontade.

A distinção entre “certo” e “verdadeiro”

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As pessoas tem opiniões sobre determinados fatos que, embora conflitantes umas com as outras, são igualmente certas. Tal fenônemo deriva da adaptação que a mente produz do que vemos às nossas experiências pessoais.

A imagem do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, em votação pela web, foi eleita uma das novas sete maravilhas do mundo, superando a Torre Eiffel de Paris e a Estátua da Liberdade de Nova Iorque.

Para os que votaram no Cristo Redentor ou que concordam com a escolha, esse é um resultado certo, por que de acordo com suas crenças.

Um francês, provavelmente, considere injusto a Torre Eiffel não ser considerada uma das novas sete maravilhas e justifique sua opinião com o argumento que, por representar uma população cerca de três vezes maior que a da França, os brasileiros venceram a eleição entre os dois monumentos, mas que os franceses, em geral, julgam a Torre Eiffel uma das novas maravilhas do mundo.

Ambas considerações estão certas: Cristo Redentor e Torre Eiffel podem ser julgadas maravilhas do mundo contemporâneo. Inexiste um padrão universalmente aceito do belo a partir do qual algo possa ser comparado e medido.

Agora imagine uma régua.

Alguém pode supor que o material utilizado para fabricação não apresenta qualidade confiável e que suas medidas estão incorretas.

Outras pessoas podem discordar desse pressuposto e afirmar que as medidas demonstradas pela régua estão corretas. Ocorre que existe uma referência padrão universal de medida de distâncias, o metro.

O metro é uma unidade de distância definida como o comprimento da trajetória percorrida pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo que corresponde à fração 1/299792458 de segundo. Esta é uma definição técnica e torna possível a verificação da confiabilidade expressa por qualquer régua. A régua em questão pode ser aferida e, por consequência, a suposição de que estejam corretas suas medidas afirmada como certa ou errada. Mais que isso, as afirmações certas serão verdadeiras e as afirmações erradas falsas.

Colocado em outros termo, certo se relaciona com opiniões, que podem apresentar características contraditórias, as vezes de difícil compreensão, e necessidade de elementos externos para serem melhor compeendidas. Tem por fundamentação o interesse individual.

Verdadeiro não possui contradições intrínsecas (o que não significa que apresente facilidade de aceitação), necessita de menos elementos externos para ser compreendido e tem por fundamento a lógica.

O certo como fonte de felicidade e a verdade como fonte da dúvida

nietzscheDeve-se ao filósofo alemão Friedrich Nitzsche (1844-1900) a seguinte colocação: “se você deseja paz de espírito e felicidade, então acredite; se você deseja ser discípulo da verdade, então duviderdquo;. Nietzsche tinha 19 anos e a frase consta em carta enviada à sua irmã.

“Deus está morto!”

Afirmado por Nietzsche em a “A Gaia Ciência” e em “Assim falou Zaratustra”, “Deus está morto” representa a dicotomia certo e verdadeiro considerada ao extremo.

Deus, base do cristianismo que postula a existência da alma e a continuidade da vida espiritual após a morte do corpo físico, é uma crença certa, no sentido de correta, adequada e pertinente, para os fiéis, mas desprovida de sentido para os ateus.

Em contexto lógico, a existência de Deus não pode ser considerada verdadeira por inexistir parâmetro objetivo, externo à crença pessoal, que a comprove.

Uma obra interessante que descreve, historicamente, os vários sentidos atribuídos ao conceito de Deus tem por título “As fontes do Self”, de autoria de Charles Taylor